domingo, 16 de junho de 2013

Manifesto de amor

Essa onda de manifestações me fez chorar
Nada de mais, já que todos sabem que choro até com abertura de programa dominical
Mas acredite, dessa vez é diferente
Sinto o peito oprimido, vazio, inconformado. Ou seria justamente o contrário?

Eu sou geração comodidade, você também, muito provavelmente.
Nem eu nem os amigos que tive fomos às ruas. Nunca.
Fizeram muito por nós lá atrás, e a gente achou que já estava bom.
Depois vimos que estava ruim.
Mas também não quisemos tentar nada. Se a gente se esforçar melhora, pensamos todos.
E assim seguimos, até agora.
E agora?

Agora estamos lamentando ter votado errado
Mas seja sincero, você acha que se tivesse escolhido opção diferente o país estaria bem?
Eu não.
Não acredito sequer em uma solução. Triste.
Eu cresci assim, deixando mandarem por mim, aceitando o que quisessem fazer, me fechando em um mundinho onde cresce manjericão e alecrim.
Construí pra minha família um canto ideal, que vez ou outra recebe visita do mundo lá fora
Ladrões, violência e preconceito.
Mas estamos bem, veja só, não moramos em Sampa.
E mesmo meus poucos amigos que quiseram tentar a vida na cidade grande, voltaram pra trás.

Eu me sinto humilhada.
Pelo sistema, pelo governo, pela presidente e por meus próprios sentimentos.
Por toda a covardia.

Mas algo mudou desde ontem.
Não sei como, mas eu voltei a acreditar.
Em pessoas melhores, nessa nova geração.
Na minha filha e nos seus.
Nessa gente que sem medo e cheia de sonhos colocou a cara nas ruas.
Por todos nós.
Acreditei.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Era uma vez um amor

Hoje amanheci de tristeza e chorei baixinho enquanto você acenava
O portão bateu fazendo aquele barulho horroroso e deixou tudo vazio
Nem me lembro mais da última vez que senti isso
Quando foi que te procurei pelos cantos, que tentei achar alguma camiseta jogada por puro prazer de guardá-la
Senti que não tinha você, há tempos
Que te queria de volta
Agora
Quis fazer uma cena, inventar uma dor, pedir com jeito, chantagear
Mas me vi grande demais pra isso
E tão pequena pra tentar.

Usei nossa Marina pra preencher o dia, mas quem diria
Ela não sabe ocupar seu lugar
Por pouco não te pedi pra voltar
Pra me abraçar forte, pra esquecer as coisas importantes
Porque, de verdade, isso não importa.

Lamentei pelas noites em que preferi dormir
Me desenrolando do seu abraço,
Afastando o amor que ainda insiste em ficar entre nós.
Lembrei que nunca mais te escrevi um poema,
Que não te pergunto mais o melhor e pior
Percebi que não tenho mais roupas bonitas pra dormir
E  senti saudade de ser sua.
E só.

Depois que você foi eu decidi ser menos cansada
Mesmo que às vezes tenha que fingir energia
Pra gente ter um tempo
De deitar no sofá abraçados, escutando com atenção como foi o dia
E deixar ser noite.

Eu preciso que você volte,
Pra eu ser sua mulher.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Vento bom

Eu só preciso que você sopre meu rosto de repente, e como preciso
Me desperte
Me aguente
Me leve
Me queira
Mesmo com toda a insegurança que me faz chata e feia
Mesmo com os ombros ainda mais tensos
Mesmo com as mãos cheias de pedras
Por favor
Me assopre.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Para guardar o dia

Eu nasci pra escrever.
Depois que aprendi a segurar o lápis e desenhar algumas letrinhas nunca mais parei.
Sério.
Diário, caderno de confidências, cartas, bilhetes, correio elegante, caderno de receitas, cartão de aniversário, poesia, bobagem, monografia, contos, frases soltas, textos publicitários, blogues.
Qualquer coisa serve pra colocar pra fora as palavras que me entopem a cabeça.
Nada sério, mas tudo indispensável.
Sabe aquelas coisas terríveis de se dizer? Eu as escrevo.
E assim mantenho a paz de espírito por mais dois minutos.
Acho que nunca passei um dia sem rabiscar alguma coisa. Ou digitar.
É preciso registrar a vida.

Num papel.
Numa tela.
Numa árvore.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Profissão

Me formei em algo que não sei bem fazer: vender mentirinha.
Veja bem, eu sei mentir, assumo.
Mas me envergonho, portanto, não vendo.
É basicamente isso, a gente faz uma história dizendo que o que é ruim é bom, que o que é caro tá barato, e ainda diz que o coitado pode pesquisar pra tentar induzi-lo a fazer o contrário.
Uma tristeza.
Uma tragédia.

Eu gosto mesmo é de fazer bolinhas.
Bolinhas sinceras, de bom chocolate, com leite Moça, e todo meu amor.
Gosto de enrolar assim, com calma e açúcar.
Posso até mentir que não engorda só pra você comer mais um.
Mas dessa mentira você me perdoa quando a massinha marrom grudar no céu da sua boca.
Ah se perdoa!

Um dia troco o teclado pela panela.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Mega Sena

No carro, a caminho do trabalho:

 - Se eu ganhasse ia comprar um helicóptero e nunca mais a gente ia ficar nesse trânsito.
 - Jura que você tem vontade disso? Acho que eu não ia querer essas coisas.
 - Você ia querer o que?
 - Ah, ia querer uma casa assim, bem bonitinha, com varanda na frente. Nossa!!! Uma varanda pra gente sentar naquelas cadeiras de área e chupar laranja no fim da tarde.
 - A gente tem uma varanda.
 - E laranja?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Voltada pra mim

E assim do nada tive vontade de voltar aqui.
Como se olhasse pra mim sem te ver.
Cega.
Aqui me parece mais meu que seu.
Mas sei, sou sua,
E tá tudo bem.
Às vezes, pequena pérola, é preciso ser só.
Só um pouco.
Mesmo que de fingimento.
Porque sem você não sou mais.
E nem quero mais ser.

Aqui pareço também minha.
Em minha pele.
Com espaço em branco,
Um vazio onde cabem as palavras que preciso vez ou outra me dizer.
Posso escutar meus dedos enquanto me cutuco:
- ei cade você?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Diálogo.

É importante que você saiba
Que meus olhos molhados nada tem a ver com tristeza
É só meu coração transbordando
Colocando pra fora tudo que sinto cada vez que você, sutilmente
Me desperta do mundo
Com um toque leve, de dentro pra fora, do lado do meu umbigo
Me mostrando que é hora de viver pra dentro.

E eu, obediente, me volto.
Só pra você.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cordão

Eu estive pensando bebê,
Esse negócio de dividirmos o mesmo umbigo me faz melhor.
O mundo que rodava ao redor dessa minha barriga
Agora envolve nós dois (ou duas)
E a gente vai aproveitando tantas voltas
Pra embalar nosso sono
Enquanto ouvimos Elvis
Mais umas 3 vezes.